Vanessa Marca - Nascimento Rafael
Nascido em 14 de outubro de 2015
Meu corpo, minhas escolhas
Por Vanessa Marca
Os dias e as semanas foram passando e a ansiedade já tomando conta da minha vida, aí iniciava o meu trabalho de parto, digo trabalho pois eu precisava trabalhar isso dentro de mim, o Rafael iria nascer no tempo dele e eu precisava aceitar essa decisão.
Já estava com 41 semanas de gestação meu GO preocupado, pois o Rafael não dava sinais de nascimento, bebê grande, mãe com cesárea anterior, líquido aumentado. Tá claro que tudo isso que eu citei anteriormente não é indicativo de cesárea, mas...
Eu tinha pesquisado, estudado, me preparado, mas e a ansiedade? Essa eu não tinha trabalhado em mim e esse era o meu maior desafio. A espera pelo Rafael, pelo tempo dele...eu via outras amigas entrando em TP e eu ali....cadê a minha vez...
Na terça-feira dia 13 de outubro pela manhã o GO então me entregou a guia para internação, podendo marcar a minha cesárea para a quinta-feira dia 15 de outubro pela manhã, me entregou também guia para fazer exame de anestesia.
Saí do consultório arrasada, meses me preparando, chorei horrores. Ele indicou a cirurgia, pois achava mais pertinente, mas sabia que a escolha era minha, tentar levar a gestação adiante ou não, caberia eu decidir.
O que fazer? Esperar? Realizar a cirurgia? Então na mesma manhã conversei com algumas amigas, que perceberam a minha tristeza e sofrimento, seria a hora de desistir de tudo que planejei?
Conversei também com a minha doula Fernanda Sherer que prestativamente me indicou leituras com evidências cientificas de que esperar poderia sim tornar meu sonho realidade. Empoderar, aconselhar...mas a decisão final era minha.
Recebi então um whattsapp das amigas dizendo que viriam aqui em casa no período da tarde do dia 13 de outubro não queriam me deixar sozinha, queriam me abraçar, cuidar de mim, me deixarem confiante para que eu pudesse me conectar com meu corpo e deixar fluir, aceitar o parto, aceitar a dor, aceitar o amor, compreender que o parto só seria possível se eu deixasse ele acontecer dentro de mim, me ENTREGAR.
Nessa tarde eu me conectei com o meu corpo, me conectei com o Rafael e recebi muita positividade, a energia já estava plantada era só eu CONFIAR e esperar. Só quem vivenciou aquela tarde junto comigo poderá descrever o quanto foi especial e acolhedora. Por isso que é tão importante uma rede de apoio que nos transmita segurança e carinho.
Eis que na noite do dia 13 de outubro às 21h20 min o meu corpo mostrou os primeiros sinais e eu não estava acreditando que aquilo tudo era verdade! Sim, eu estava entrando em trabalho de parto depois de tanto orar e pedir que isso acontecesse, quase não acreditei no que eu estava sentindo. O Rafael estava querendo vir ao mundo, conhecer sua mamãe e sua família.
Eu queria sentir, queria sentir as dores, queria sentir o Rafael cada vez mais perto de nascer, eu estava eufórica, eu ria a cada contração, podia demorar dias ou podia demorar algumas horas e eu estava vivenciando tudo aquilo, experimentando aquela sensação única que eu tanto lia nos relatos de parto desta página e de tantas outras e chorava com depoimentos incríveis que me traziam forças para lutar em ter o meu parto tão sonhado. As horas foram passando e as contrações bem ritmadas e com intervalos regulares, avisei então a minha doula que pediu para que eu descansasse e tentasse dormir. Na manhã do dia seguinte 14 de outubro as dores continuavam com a mesma intensidade e força, avisei algumas amigas e continuei a grande espera, meu bebe já estava quase chegando, às 9h da manhã saiu o tampão mucoso e às 11h as contrações começaram a piorar e intensificar, então avisei a Fernanda e às 11h40 ela foi lá para casa me apoiar e me ajudar. Tive outras reações, como vômito, não queria mais comer, minha bolsa começou a vazar (sim ela furou, não estourou) descendo líquido aos pouquinhos. Para mim isso era ótimo, pois como eu estava com líquido aumentado se a bolsa estourasse ou poderia ter acontecido um prolapso de cordão (onde o cordão sai antes do bebê, isso é indicativo real de cesárea). Então o líquido foi saindo aos poucos e o bebê abaixando.
Às 14h foi quando entrei na fase ativa do parto, a dor já estava tomando conta de mim, o Rafael estava cada vez mais próximo de vir ao mundo e eu cada vez mais perto de renascer.
Tudo dependia só de mim e do Rafael, juntos estávamos trabalhando para nos conhecermos, para que pudéssemos estar juntos, era uma sincronia... uma sintonia entre eu e ele.
Fomos então para o hospital, fizemos os procedimentos de internação, já passei pela triagem. Eu decidi utilizar o médico plantonista, fez o toque já estava com 5 cm de dilatação após 17 horas de TP. Fui para a sala de pré parto e realizei o exame de Cardiotoco (primeira e única vez que realizei esse procedimento). Estávamos bem, agora era só deixar o corpo agir, ele sabe o que fazer e ACEITAR o momento.
Então fomos para o chuveiro, bola, banqueta e as contrações estavam muito próximas uma da outra, até que começou a fase de transição, nesse momento eu pedi um toque do médico, pois a dor era muito forte e eu já não conseguia descansar entre os intervalos, acho que nem tinha mais intervalos. Eu estava certa do que eu queria. Perguntei então para a Fernanda sobre a analgesia e ela me explicou, mas logo já descartei a possibilidade, pois já estava iniciando a fase do expulsivo. Então fui para a banheira, o médico chegou e fez o toque, já estava com 9 cm de dilatação. Então ganhei mais energia sabendo que logo abraçaria o Rafael.
Nesse momento pedi para sair da banheira e ir para o centro cirúrgico e em menos de uma hora o Rafael nasceu às 18h29min. Por mais que pareça esquisito, a presença do médico me deixou mais confiante, pois em todo o trabalho de parto ficamos sozinhos, eu, meu esposo a doula e a fotógrafa Maykeline Dal Moro, e a posição litotômica não me incomodou no expulsivo e eu tinha péssimas referências dessa posição e tinha criado um certo preconceito dela. O que quero dizer é que ao vivenciar as situações descobrimos os melhores jeitos e formas de parir para cada um.
Dados importantes sobre meu parto para desmistificar o PN:
41 semanas e 2 dias de gestação.
Cesária anterior
Líquido aumentado
Bebê grande com 4,265 quilogramas no nascimento
21 horas de trabalho de parto
Sem intervenções (analgesia, ocitocina, episiotomia... etc)
Períneo integro
Laceração interna, média de 10 pontos
Mãe e bebê com alta em 24 horas
Banho do bebê feito no quarto pela mãe depois de 5 horas do parto.
AGRADEÇO por ter conhecido pessoas maravilhosas ao longo desta trajetória, muita pesquisa, empoderamento e aos grupos de apoio/terapêuticos da equipe Nascer no qual minha doula faz parte e ao grupo Gestafoz.
Eu sabia exatamente o que eu queria e tinha conhecimento sobre isso.
Entre essas pessoas quero agradecer meu marido Patrick Marcelino da Silva que estava ao meu lado me apoiando em todas as decisões e pariu o Rafael junto comigo. A amorosa e dedicada madrinha do Rafael Cristhiany Andrade pela cumplicidade e carinho maternal de sempre. A minha doula super competente Fernanda Sherer que foi essencial em todo o processo de empoderamento, escuta e entrega, sem ela passar pelo trabalho de parto seria quase impossível. As minhas queridas e iluminadas amigas e mães Beatriz Armond Crepaldi Pineli, Camila Thaisa Cecchin, Carla Mariana, Angela Bernardi, Fernanda Zétola,Cristina Ito de Lima pelo momento de apoio e amparo que foi decisivo para que tudo pudesse acontecer. Agradeço também a todas as pessoas que torceram positivamente para que eu pudesse realizar este sonho e renascer com a chegada do meu pequeno Rafael.
